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Em abril, o conglomerado sul-coreano Hyundai anunciou que impediria que suas escavadeiras fossem usadas na mineração ilegal na Amazônia brasileira. Isso se seguiu a um relatório recente do Greenpeace que descobriu que cerca de 43% das escavadeiras vistas operando em territórios indígenas eram da Hyundai.
"O anúncio da Hyundai é extremamente importante, não apenas no Brasil, mas no mundo", disse Danicley de Aguiar, ativista da Floresta Amazônica do Greenpeace Brasil. "Há um debate sobre a responsabilidade das empresas privadas de proteger o meio ambiente e proteger os direitos humanos."
Entre 2021 e 2023, o Greenpeace Brasil realizou sobrevoos aéreos e mapeamento por satélite do garimpo ilegal em terras indígenas. Localizou pelo menos 176 escavadeiras hidráulicas, quase todas nas Terras Indígenas Yanomami, Munduruku e Kayapó.
De Aguiar disse ao Mongabay que desde 2010 houve uma explosão de garimpos, ou minas ilegais, na Amazônia, facilitada pela capacidade das escavadeiras de remover muito mais solo do que a mineração tradicional.
Cada máquina custa mais de US$ 133.000 e pode realizar em 24 horas o mesmo trabalho que três homens em 40 dias, criando retornos maciços sobre o investimento, de acordo com o relatório do Greenpeace. No entanto, os custos reverberam muito mais amplamente. De acordo com a Calculadora de Impactos da Mineração desenvolvida pelo Conservation Strategy Fund, cada quilo de ouro extraído desses territórios gera $ 400.000 em danos, principalmente para a saúde humana, o que equivale a um custo social 10 vezes superior aos lucros obtidos.
Em janeiro de 2023, o governo brasileiro declarou uma emergência médica no território Yanomami depois que centenas de crianças indígenas Yanomami morreram de doenças tratáveis, como diarreia e malária. O Greenpeace havia revelado anteriormente a presença de uma estrada ilegal no território que era usada para trazer escavadeiras e garimpeiros ilegais, alimentando a crise humanitária e causando violência e problemas de saúde para os 27.000 habitantes Yanomami do território.
“Este é um alerta que foi feito por causa do nosso trabalho no território Yanomami”, disse de Aguiar. “Mas é apenas uma fração do que está acontecendo na região [Amazônica]”.
A Hyundai posicionou-se globalmente como campeã da sustentabilidade, inclusive como signatária dos Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos da ONU. Em dezembro de 2021, a Hyundai se comprometeu com o Pacto Global das Nações Unidas, uma das maiores iniciativas voluntárias de responsabilidade corporativa do mundo, onde as empresas membros se comprometem a respeitar 10 princípios em direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate à corrupção.
Julia Neiva, coordenadora de desenvolvimento e direitos socioambientais da ONG brasileira Conectas, disse à Mongabay que o desenvolvimento dos princípios da ONU nos anos 2000 incutiu nas empresas um senso de responsabilidade em relação às suas cadeias produtivas. O cumprimento desses princípios, no entanto, não é obrigatório e é autorregulado pelas respectivas empresas, disse Neiva.
“As empresas costumam usar essas políticas e esses códigos de conduta como forma de criar uma imagem positiva para a sociedade, para os consumidores e até para os investidores internacionais”, disse ela. “Isso é algo que as empresas têm usado muito como selo de qualidade e responsabilidade com os direitos humanos. Mas isso não necessariamente se traduz em mudanças reais de comportamento”.
Em nota, a Hyundai disse que se solidariza com a destruição feita na Amazônia e com a invasão de terras indígenas causada pelo garimpo ilegal. Para evitar o uso ilegal de equipamentos pesados da Hyundai na Bacia Amazônica, a empresa disse que fortalecerá seus processos de vendas e sistemas de conformidade e, até a efetivação, deixará de vender equipamentos pesados de construção, incluindo o fornecimento de manutenção e peças, nos três Estados amazônicos do Amazonas, Pará e Roraima.
A Hyundai disse que também encerraria uma subconcessão com o revendedor autorizado BMG para vender a mineradores ilegais e prometeu cooperar com o governo brasileiro na medida do possível. O relatório do Greenpeace observou que o BMG estabeleceu concessionárias e instalações nas proximidades dos três territórios indígenas que respondem por 95% de todas as minas ilegais em terras indígenas em todo o Brasil. Ele também observou que um representante do BMG expressou solidariedade aos garimpeiros ilegais e admiração pela abordagem do ex-presidente Jair Bolsonaro à mineração, que incluía a invasão de territórios indígenas.